Enquadramento

O projeto AGRRIN insere-se nos estudos sobre o racismo numa perspetiva decolonial. Visando tratar a discriminação e a insurgência, por meio do estudo do lugar que os corpos dos cidadãos racializados ocupam nesses processos.

Reconhecemos que os corpos, não brancos em contextos de branquitude dominante, sempre foram os primeiros “locus” de dominação nas relações de poder, nos processos escravistas, nos processos coloniais e pós-coloniais, nas relações patriarcais, na dominação sexual e no controle de suas subjetividades e saberes. (Mignolo,2007)

O projeto focará sua atenção em uma das formas mais comuns de racismo, a agressão sub-reptícia, nomeada também como racismo aversivo, racismo cotidiano ou micro agressão. Essa agressão sub-reptícia está associada à materialidade corporal de pessoas racializadas. O projeto estudará as suas especificidades (Bethencourt & Pearce,2012) e como essa mesma corporalidade também suporta múltiplas formas de insurgência. Por fim, pretende-se que uma melhor compreensão desses complexos processos seja vertida como contributo para a sua superação, subsidiando uma pedagogia decolonial. (hooks 2009) 

O projeto está inserido no quadro teórico e de intervenção social da Escola de Pensamento da Sociomuseologia, enquanto Ciência Pública, inserida no campo das Ciências Sociais (Primo & Moutinho, 2020). O projeto tem parceria com a Cátedra UNESCO “Educação, Cidadania e Diversidade Cultural”

O projeto está centrado sobre a  população negra e afrodescendente residente em Portugal, sujeita a múltiplas formas de discriminação racial, destacadas num relatório da ONU de 2021 como sendo as desigualdades no acesso à educação, serviços públicos, emprego, existência de perfil racial no sistema de justiça e violência policial. Nos últimos 5 anos, essa situação agravou-se, convocando à renovação dos estudos sobre cidadania, educação e diversidade cultural, na perspetiva dos Direitos Humanos e da Justiça Cognitiva.  O estudo tem como fio condutor, o lugar que os corpos assumem como denunciadores de alteridade, como sofrem a construção de práticas discriminatórias e suas consequentes expressões de insurgência identitária.

O projeto AGRRIN prioriza o trabalho de campo que será desenvolvido em parceria com organizações negras e afrodescendentes e escolas secundárias parceiras com presença de afrodescendentes, dando continuidade a projetos de pesquisa anteriores, coordenados ou participados por pesquisadores incluídos na atual equipe, na área da exclusão e da inclusão social, do racismo, da educação patrimonial e da pedagogia decolonial (Primo & Moutinho, 2021) e (Primo & Moutinho, 2021).